Carta Aberta à Luiza

Hoje, pela primeira vez desde a formatura da minha prima, coloquei o seu vestido branco. Leve, suave, você. Saudades imensas.

As ruas vão ladeadas de amarelo ipê, confirmando aos olhos a seca que a boca já sabia. Aquele nosso velho querido contraste de terra e céu. Eu queria uma flor amarela daquela...

As paineiras fazem um falso inverno, que me transporta à infância, às arvores nuas, à neve, ao conforto do cobertor. No calor do cerrado, sinto calafrios de desejos gélidos, um manto branco para cobrir o chão tão cansado. Um repouso aos olhos.

Imagino que aí também as árvores começam a dourar e em breve deitarão todas as folhas pelo chão. Aquele som craquelado sob os pés, uma brisa cristalina prenuncia o porvir.

Ontem fui ao porão do rock pela primeira vez, a serviço do figurino de uma banda. Naquele imenso combinado de metais e sons, tive algumas convicções; Que somos realmente iguais na diferença e que não se pode pretender equidade sem abrir os braços para a diversidade. Que sou muito mais feliz enquanto realizadora do que espectadora. Que a arte, com todas as suas formas de expressão, é um instrumento de poderoso diálogo com a sociedade. Que aqueles que negam a sua importância fecham os olhos para a essência do homem, que é um animal criador/criativo por excelência.

Tenho andado com uma certa moleza no peito, quase tudo faz saltar lágrimas aos olhos. A doçura entre uma avô e neta, o sol de fim de tarde, o ardor lento da fumaça no peito, uma ligação perdida, a pobreza de um mendigo de muletas, e principalmente, a pobreza de espírito. Até mesmo estas linhas me fazem querer chorar.

Ia te escrever mais, amiga. Porém a máquina da burocracia engoliu a minha poesia e cuspiu de volta a despretensão.

Cuide muito bem de você.
Beijos de flor de laranjeira

Dani


Um comentário:

  1. Eu nao tenho a feliz(cidade), in(feliz)mente, de poder dizer tudo que aqui passa(e passa muito). Hoje, aqui(ou sera que mais ai que aqui?) sinto a necess(cidade) de estar proxima de vcs e dessa Brasilia (cidade) que aprendi a amar...
    Saudade de caminhar de manha cedo
    saudade do cafe da Luzia
    saudade desse mundo de coisa que a gente sabe fazer...
    te amo muito, estarei ai em breve
    bem breve mesmo...

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